Como se chegou a essa teoria
As interpretações clássicas da evolução das sociedades pré-históricas usam teorias que tomam, como base, ou o parâmetro cronológico, ou o cultural, e às vezes ambos. Essas teorias, entretanto, seriam artifícios, ou seja, não teriam relação verdadeira com os fatos efetivamente ocorridos no passado.
A não preservação do patrimônio arqueológico se relaciona com a adoção dessas teorias artificiais.
De fato, se o conhecimento do passado é apenas formal, sem implicações para o presente, então não é necessário ir além do artifício. Mas a questão essencial é saber qual a importância que as culturas indígenas existentes na floresta tropical antes da conquista européia tem para o Brasil de nossos dias.
Por exemplo: existe apreço (e ensino) sobre as Culturas Clássica e Medieval Ocidentais e, em função disso, são feitos muitos esforços de preservação de edifícios e vestígios que reportam-se a essas culturas.
Já o cuidado com urnas funerárias marajoaras parece baseado mais em interesses comerciais, pelo valor que podem ter no mercado negro de objetos arqueológicos, ou por um nacionalismo de antiquário.
Para valorizar nosso passado é que surge a idéia de gênese, que não é um processo evolucionista, retilíneo, mas constante reconstrução. Assim, a divisão tradicional da evolução da pré-história amazônica em quatro épocas - paleoíndia, arcaica, formativa e complexa – é rejeitada como inadequada, artificial, e exógena.
O paleoíndio, por exemplo, que é categoria que se adequa aos ancestrais dos indígenas norte-americanos, enquanto caçadores especializados num clima frio e seco, na era final das glaciações (circa 12 mil anos atrás), não é funcional ao se abordar a proto-colonização das florestas quentes e úmidas pelas populações de características mongólicas, ancestrais de nossos índios.
Da mesma forma, a adoção de teorias que se fundamentam em diferenças da cultura material apresenta contradições, já que até mesmo a cerâmica, que supostamente deveria caracterizar somente o período arcaico, apresenta datações cada vez mais recuadas (como um fragmento achado na serra da Capivara, datado em 8900 anos).
Isso se deve ao fato que estas teorias classificam os vestígios conforme os modelos que pré-adotaram. A nova hipótese da gênese das sociedades amazônicas, porém , parte do pressuposto que a integração à floresta tropical foi o acontecimento de longa duração significante na evolução das sociedades amazônicas pré-históricas. Nessa visão, muito que antes foi separado pode ser unificado.
Na floresta se teriam criado, ao longo de um extenso período, práticas e costumes englobados pela nova teoria na definição de Cultura Tropical, em que, já superada a fase de mera satisfação das necessidades, as sociedades amazônicas teriam obtido um sucesso notável na adaptação humana à floresta úmida.
O homem teria passado a co-evoluir com essa floresta. Da reconstrução da Cultura Tropical teria surgido, então, a gênese da Cultura Neotropical em que as sociedades, já conhecedoras dos recursos e limites do ambiente, teriam florescido em interações geopolíticas, sociais e étnicas que se destacam pela originalidade, inventividade e êxito, e cuja evolução só seria detida pela ruptura da conquista européia.